O Judiciário brasileiro atravessa uma transformação histórica impulsionada pela digitalização de seus processos e rotinas, fenômeno intensificado pela pandemia da Covid-19 e pelos avanços tecnológicos da última década. Os Analistas Judiciários, atores centrais no funcionamento da Justiça, sentem de forma direta os impactos dessas mudanças, que afetam suas funções, competências e condições de trabalho.

Do Papel ao Digital: Uma Mudança Estrutural e Cultural

A implementação do Processo Judicial Eletrônico (PJe), regulamentada pela Resolução CNJ nº 185/2013, revolucionou a tramitação processual ao substituir o papel pelos documentos digitais. Atos como peticionamento, movimentação e assinatura passaram a ocorrer em ambiente virtual, modificando radicalmente as rotinas de trabalho.

Essa evolução promoveu ganhos de celeridade e eficiência, mas também exigiu profunda reestruturação de práticas laborais e adaptação cultural dos servidores.

Novas Competências em um Judiciário Tecnológico

A modernização trouxe consigo a necessidade de domínio de ferramentas tecnológicas, como Microsoft Teams, Zoom, SEI e sistemas judiciais eletrônicos. Não basta mais apenas o conhecimento jurídico: exige-se adaptabilidade, constante atualização e proficiência digital.

Segundo o relatório Justiça em Números 2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 96% dos processos em tramitação já são eletrônicos (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2023). Essa nova realidade, contudo, muitas vezes carece de suporte institucional adequado, impondo desafios aos servidores para manter sua capacitação e produtividade.

A Sobrecarga Invisível e os Efeitos sobre a Saúde Mental

Embora o teletrabalho tenha proporcionado benefícios como flexibilidade e redução de custos, ele também ampliou os riscos à saúde mental. A dificuldade em estabelecer limites entre vida pessoal e profissional, somada à eliminação de espaços informais de interação, impacta o bem-estar dos servidores.

De acordo com estudo publicado na Revista Boca do Instituto de Olhares Sociais (IOLES), o processo de digitalização tem potencializado sentimentos de isolamento, insegurança e sobrecarga emocional entre os servidores da Justiça, especialmente entre aqueles que atuam diretamente com o volume crescente de demandas digitais (LOPES, 2023).

Além disso, o aumento da produtividade nem sempre resulta em diminuição da carga de trabalho, criando um ciclo contínuo de pressão e desgaste.

Inteligência Artificial: Aliada ou Ameaça?

A introdução da inteligência artificial (IA) no Judiciário, exemplificada pelo sistema Victor do Supremo Tribunal Federal (STF), destinado à triagem de temas de repercussão geral, demonstra o potencial da tecnologia no apoio à prestação jurisdicional.

Contudo, surgem questionamentos pertinentes: qual o impacto da automação nas funções humanas? Há riscos de substituição, perda de autonomia ou vieses nos algoritmos?

Esses dilemas exigem a construção de uma governança ética da IA garantindo transparência nos sistemas, participação ativa dos servidores e reforço da função crítica humana.

A Atuação da ANAJUS e a Defesa dos Servidores

A Associação Nacional dos Analistas do Poder Judiciário e do Ministério Público da União (ANAJUS) posiciona-se de forma ativa na mediação das transformações tecnológicas, defendendo:

  • Capacitação continuada para os servidores;
  • Condições adequadas de trabalho presencial e remoto;
  • Políticas institucionais voltadas à promoção da saúde mental;
  • Valorização do conhecimento técnico especializado.

A ANAJUS sustenta que o avanço tecnológico deve servir à valorização da Justiça e de seus agentes, não à precarização das relações laborais.

Considerações Finais

A digitalização do Judiciário é irreversível e carrega imenso potencial de modernização, transparência e eficiência. Contudo, sua implementação deve ser pautada pelo equilíbrio entre inovação tecnológica e valorização humana.

A transição digital precisa ser construída de forma planejada, participativa e ética, assegurando que os avanços sejam, de fato, instrumentos de fortalecimento da Justiça e do serviço público de qualidade.

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