Apaixonada por tecnologia e consciente da situação do serviço público no Brasil, a Analista Adriana Silva integrou equipe do TSE responsável por projeto de combate às fake news que foi um dos finalistas do 16º Prêmio Innovare 

Anajus Notícias
07/08/2020
Equipe do TSE responsável pelo projeto de combate às fake news / Foto: TSE

O combate à disseminação de notícias falsas é uma das principais pautas discutidas na atualidade. No Brasil várias iniciativas têm surgido nessa guerra contra a desinformação, como o surgimento de agências de checagem e recentemente a tramitação e discussão no Congresso Nacional do Projeto de Lei 2630/20, que trata do combate às  fake news em redes sociais e serviços de mensagens. Tema no mínimo polêmico pelos limites tênues entre a liberdade de expressão e a propagação de conteúdos que prejudicam a imagem de  pessoas e instituições.

O Tribunal Superior Eleitoral – TSE pode colaborar nos debates, pela  experiência adquirida de ter vivido nas trincheiras da guerra contra a desinformação, especialmente em tempos de eleições, como as municipais que ocorrerão no final deste ano.

A analista de sistemas Adriana Silva, que atua na área de Tecnologia da Informação do TSE, alcançou nessa luta o reconhecimento público pelos resultados obtidos nas eleições gerais de 2018 no combate às fake news. A servidora também fez parte do Comitê de Contrainformação do TSE, finalista na categoria Tribunal do 16º Prêmio Innovare, realizado em 2019. A iniciativa tem por objetivo é identificar, divulgar e difundir inovações que contribuam com o aprimoramento da Justiça no Brasil. A criação do prêmio é uma dessas raras oportunidades em que uma conjunção de fatores conspira a favor da coletividade.

“Foi um trabalho no qual não esperávamos precisar atuar além das nossas atribuições normais já previstas e relativas às eleições. Eu me vi, primeiramente, diante de algo desconhecido, surreal e novo. Havia um ataque voltado à desconstrução de uma instituição que a cada eleição vinha comprovando a lisura do processo eleitoral com referência na segurança”, pontuou Adriana.

Acrescentou que, na época, havia a real a necessidade de esclarecimento junto à população diante de tantas inverdades disseminadas nas redes sociais que causavam instabilidade e insegurança. “Os ataques à Justiça Eleitoral, especificamente às urnas eletrônicas, exigiram de todos a formatação dos dados que tínhamos para a publicação como resposta direta a cada desinformação no esclarecimento ao cidadão e à sociedade.”, detalhou.

Arsenal da lisura

A campanha de esclarecimento do TSE se intensificou com a atuação do Comitê formado por servidores da Assessoria de Comunicação (Ascom), da Assessoria de Gestão Eleitoral (Agel) e da Secretaria de Tecnologia da Informação (STI) para monitorar e esclarecer as informações falsas.

A ação de comunicação integrada gerou um site para esclarecimentos: http://www.justicaeleitoral.jus.br/fato-ou-boato/

Vídeos e spots de rádio em linguagem simples e direta colaboraram para facilitar o entendimento das mensagens, que eram disseminadas em diferentes plataformas e aplicativos de mensagens.

A continuidade e o trabalho de um Comitê de Combate à Desinformação tem por objetivo o estudo e a criação de propostas de como lidar com cenários de incertezas que gerem inseguranças  em relação ao processo eletrônico de votação.

“Acredito na lisura do processo eleitoral com base em conhecimentos e fatos que o comprovam. Logo, como servidora pública federal é meu papel defender o trabalho da Instituição, realizado por colegas que assim como eu, trabalham para que o cidadão exerça seu direito de voto com segurança”, respondeu Adriana, que hoje trabalha como gestora na área de Arquitetura da Informação. “O serviço público para mim tem papel importante no atendimento e na prestação de serviços à sociedade em suas necessidades básicas como previsto na Constituição Federal”.

Com congelamento e sem data-base

Juntamente com a paixão pela tecnologia para vencer obstáculos, a servidora avalia que o contexto de crise provocado pela pandemia do novo coronavírus fez com que o poder público, em todas as esferas, optasse por discutir propostas de assistência financeira e recuperação econômica mas que vem trazendo um viés negativo para o funcionalismo. Recentemente, a aprovação do projeto de socorro aos Estados e Municípios provocou o congelamento do salário de várias categorias, colocando o funcionalismo público em destaque para o cofre da União nas medidas de enfrentamento à crise. “Diante da situação que estamos enfrentando, acho justo que todos, sem exceção, prestem esse apoio ao manter o congelamento de seus salários. O que não acho justo, é o sacrifício ser apenas de alguns. Pois mesmo fora da pandemia, já estávamos com os salários congelados sem a reposição inflacionária correspondente às perdas. Além de não termos data-base para reajustes, sempre ficamos sem perspectiva das devidas correções ao longo da carreira”, criticou.

Segundo a servidora, o debate sobre o serviço público deveria abranger outras questões, como o investimento em gestão pública e melhor administração dos recursos, que se converteria numa economia a ser reinvestida em vários setores. ”Precisamos de soluções colaborativas, melhoria de processos e fluxos de trabalho, investimento em inovações e qualificações de servidores de forma contínua. Tudo que for necessário para melhorar o desempenho e a capacidade operacional na entrega de melhores serviços à população”, acrescentou.

Sucateamento

Na perspectiva da Servidora está em curso  o processo de sucateamento de muitos serviços públicos. A situação acaba refletindo inclusive na qualificação dos servidores. ““Desvalorizar o serviço público é desvalorizar os serviços prestados à população”, comentou. Adriana pontua que a valorização com investimentos na administração e na capacitação é uma forma de manter serviços de excelência em cada órgão e reduzir desperdícios e gastos por ineficiências.

A reversão desse quadro se daria com mais atenção dos governos em relação à qualidade dos serviços prestados. Mas, antes, os tomadores de decisão precisam ouvir os servidores e gestores, que estão na linha de frente do dia a dia.

Os servidores também precisam de representação para levar adiante suas pautas, provocar reflexões e conseguir se defender de propostas que não os representam, politicamente. “Por isso, a importância também da Anajus, que defende a valorização dos Analistas no Serviço Público e trabalha para assegurar nossos direitos já conquistados”, continuou.

Trajetória

Adriana Silva aos 2 anos de idade, em Taguatinga (DF)

Adriana é filha do paraibano seu Lourival (in memoriam) e da mineira dona Maria Auxiliadora, que se conheceram na capital federal há mais de meio século em busca de novas oportunidades de vida. Ambos se conheceram trabalhando em um hotel de Brasília. A mãe camareira e o pai encarregado de serviços gerais. Pouco tempo depois, Adriana estava a caminho. Até os quatro anos de idade, a hoje servidora federal morou na cidade de Taguatinga, a cerca de 30 km do centro do Plano Piloto. A mãe parou de trabalhar para cuidar dela e dos dois irmãos que vieram na sequência. Mas precisou fazer serviços domésticos como lavar e passar roupa para fora e fazer pequenos serviços de conserto e costura para ajudar o pai nas despesas de casa. A vida não era fácil para a nova família brasiliense vindos do interior de Minas e Paraíba. Mais tarde, a família se mudou para o Guará, saindo de sucessivos aluguéis e conquistando a casa própria. Onde a Adriana inicia sua vida escolar, fase marcante para sua busca e formação como Analista de Sistema. Lembra-se com detalhes do saudoso período.

“Eu tinha 4 anos quando nos mudamos para a casa nova do Guará. Nova mesmo. Éramos os primeiros moradores. Meus pais finalmente realizavam o sonho da casa própria.  Era uma casa de 1 quarto apenas, onde eu e meus irmãos dormíamos em beliche e cama de campanha na sala. Me lembro de observar da porta da cozinha, um quintal enorme de terra vermelha batida com uma única plantinha solitária bem no centro. Os muros baixos, dividiam os quintais e suas casas, mas não separavam os bons-dias e os bate-papos à distância enquanto os vizinhos lavavam suas roupas ou varriam seus quintais. Com o tempo, os muros baixos foram ganhando altura, dando maior privacidade. Por outro lado, minha impressão com os anos, era de que o quintal parecia diminuir de tamanho. A plantinha solitária deixou de existir para dar lugar a um fogão à lenha. Ali minha mãe fazia o feijão, as carnes de panela e a galinha caipira de gosto inesquecível.  Nessa época, passados uns 3 anos, entrei na fase escolar obrigatória. Minha mãe me matriculava na escola conforme a série a ser cursada e a menor distância de casa. Me recordo que ela me levou a escola apenas por uma semana para me ensinar o caminho. Depois disso, aprendi a ir e voltar sozinha aos 7 anos de idade. Muitos caminhos. Idas e vindas que me ensinaram e me fizerem chegar até onde cheguei. Estudei no Centro Educacional nº 4 até a 4ª série primária. Depois Centro de Ensino nº 7 até a 7ª série e, por último, no Centro de Ensino nº 3, onde fiz a 8ª série e o 2º grau, atual ensino médio, com opção em contabilidade”, contou.

Matemática com arte

“A 8ª série foi um divisor de águas. Passei a gostar de exatas por causa de uma professora de matemática que nos apresentou outras facetas da matéria, desmistificando toda dificuldade encontrada até ali. Por um lado, essa dificuldade me permitiu cultivar uma especial dedicação pelas artes, em especial pela música, dança e escrita, pois achava que jamais desvendaria a misteriosa matemática. Me lembro quando teve um sorteio na escola para aulas de dança e música, mas não fui sorteada. Fiquei muito triste. Mas nossa professora de Português que conhecia os talentos e os sonhos de seus alunos, convenceu minha colega que tinha ganhado a bolsa de ballet a me ceder a vaga, pois ela fazia vários cursos a tarde e não teria tempo de frequentar as aulas. Além de ser a melhor desenhista da escola, ela dizia não ter coordenação nem para dançar música lenta. E definitivamente não era o seu sonho tanto quanto era o meu.  Essa oportunidade me fez fazer parte mais tarde de uma Companhia de dança onde ganhamos até prêmio. Mas essa é uma outra história. Voltando à matemática, essa mudança na relação com as exatas me ajudou a escolher o curso técnico em contabilidade no 2º grau. Me ajudaria e ingressar logo no mercado de trabalho ter uma formação mais especializada. E assim o fiz. Logo que me formei, arrumei meu 1º emprego aos 17 anos”, relatou.

Adriana optou por não fazer o vestibular logo que terminou a escola. Passar em uma federal para quem estudava em escola pública não era tarefa fácil. Estudar em uma faculdade particular estava fora de cogitação devido o valor que não tinha como pagar. “Me manter estudando mesmo numa federal seria complicado por conta do custo com transporte e alimentação. Para minha família, trabalhar seria a prioridade naquele momento. Meu pai só ganhava um salário mínimo. Além da possibilidade de ajudá-los nas despesas de casa, o sonho de toda jovem era ter o próprio dinheiro para comprar roupas e sapatos”, disse.

Foi trabalhando que decidiu qual curso superior faria. Descobriu sua verdadeira vocação e paixão pela área de Tecnologia da Informação e cursou Ciência da Computação na Universidade Católica de Brasília – UCB. “Sou tão apaixonada por tecnologia e informação que juntei ambos e fui fazer o mestrado na UnB em Sistemas de Informação – Arquitetura da Informação, depois de oito anos já graduada”, explicou.

Antes de ingressar no serviço público, a servidora trabalhou em 4 instituições privadas. Foi secretária, auxiliar de contabilidade e gestora da área de design gráfico. Na sequência passou num concurso público para o cargo de assistente administrativo na UnB, onde ficou por três anos, enquanto já cursava Ciência da Computação na UCB. Decidiu largar o emprego público e ir atuar na área de tecnologia na própria Universidade Católica quando foi convidada logo após terminar o estágio. Eles queriam que ela desse continuidade a um projeto de sistema de biblioteca e de bases de dados de consultas e pesquisas.  “Formei na Católica e trabalhei lá por mais 6 anos. Por 2 anos fui técnica administrativa e depois que formei passei para Analista de Sistemas e na sequência fiz o concurso para Analista Judiciário”, lembrou. “Sempre sonhei trabalhar no Judiciário. Voltar à carreira pública no Judiciário e na minha área de atuação foi o marco de sucesso na minha carreira profissional. Hoje me considero realizada e feliz”, complementou.