As pontes possíveis desmoronam. Quem negocia em nome do governo? Quem tenta convencer os parlamentares de que a aprovação é importante?

O POVO
27/03/2019

A reforma da Previdência enfrenta dificuldades surpreendentes e o criador delas é o governo. A aposta quase unânime é de que alguma reforma será aprovada. A capacidade de articulação do governo definirá quão profunda será. Pois ocorre o seguinte: da forma como está sendo conduzida, a reforma não passa. Se o governo não mudar a forma como trata o assunto, não aprovará reforma nenhuma. Zero. “Ah, mas você quer que o governo faça a velha política?”. Não, quero que faça política. Isso significa mais que tuitar.

A reforma da Previdência enfrenta dificuldades surpreendentes e o criador delas é o governo. A aposta quase unânime é de que alguma reforma será aprovada. A capacidade de articulação do governo definirá quão profunda será. Pois ocorre o seguinte: da forma como está sendo conduzida, a reforma não passa. Se o governo não mudar a forma como trata o assunto, não aprovará reforma nenhuma. Zero. “Ah, mas você quer que o governo faça a velha política?”. Não, quero que faça política. Isso significa mais que tuitar.

Na montagem do governo, Jair Bolsonaro (PSL) fez, de fato, algo diferente de todos os outros. Há indicações políticas? Há. Mas, menos que em qualquer administração anterior. A escolha obedeceu a outros critérios e parâmetros. Isso é elogiável. A dúvida era qual o nível de governabilidade isso daria. A resposta está chegando e não é boa.

As pontes possíveis desmoronam. Quem negocia em nome do governo? Quem tenta convencer os parlamentares de que a aprovação é importante? A pessoa mais apta a isso no governo é o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Longe de ser desenvolto nos bastidores, é parlamentar há bastante tempo e tem experiência. Mas, há um problema: ele foi dos mais ferrenhos críticos das últimas reformas da Previdência, em 2017, de Michel Temer, e em 2003, de Luiz Inácio Lula da Silva.

Na Secretaria de Governo está o ministro general Santos Cruz, cuja mais recente demonstração pública de traquejo e habilidade foi chamar de desequilibrado o escritor Olavo de Carvalho.

Paulo Guedes iria ontem à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), desistiu de última hora por receio do ambiente hostil. A comissão se rebelou e quase o convocou para obrigar o comparecimento. Foi feito acordo e ele se comprometeu a ir na semana que vem. O ambiente deverá estar pior.

Uma ponte seria Rodrigo Maia (DEM-RJ). Porém, o presidente da Câmara dos Deputados entrou em atrito com o governo. Trocou declarações públicas duras com o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e ficou furioso com provocações do “Zero Dois”, Carlos Bolsonaro (PSL), no Twitter. Presidente da Câmara nenhum articula e aprova sozinho reforma dessa envergadura. Sem ele também não se aprova. Rodrigo não está contra. Após as rusgas, voltou a se movimentar pela proposta. Mas, há arestas.

Mexer com aposentadorias é complicado. Se o governo estivesse coeso e organizado, já seria difícil. Do jeito que está aí, é impossível.

O governo disse qual política não quer fazer. Falta mostrar qual fará. Antes da posse, Guedes pediu que jornalistas fizessem “prensa” nos parlamentares para aprovar a reforma. Bolsonaro atribuiu a cobrança à inexperiência do ministro. A palavra não seria prensa, mas convencimento, segundo disse. Pois, falta ir a campo para convencer o Congresso.

Não dá para enviar a proposta, jogar para a platéia no Twitter e esperar que ela seja aprovada. Assim, aprova nem voto de pesar.

No meio da confusão, o presidente foi ontem ao cinema assistir Superação: o milagre da fé. É justo o que o governo precisa.

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