Toda a dedicação dos Analistas Judiciários de nível superior para ingressar no Poder Judiciário perde sentido, se as entidades que representam os Técnicos Judiciários de nível médio conseguirem elevar a escolaridade do cargo sem a necessidade de se submeterem a concurso público

Artigo de Reinaldo Lopes Rocha
Analista Judiciário da Justiça Federal – Bahia
Reinaldo Rocha: jeitinho brasileiro

No dia 13 de setembro de 1993, tomei posse na Justiça Federal, Seccional Bahia, no cargo de Analista Judiciário, área-meio. Oriundo da iniciativa privada, contava com mais de cinco anos de experiência na área de Recursos Humanos. Minha expectativa ao chegar a esta Seccional era  ser  aproveitado  no  Núcleo  de  Recursos  Humanos.  Expectativa frustrada.  Fui lotado  no NUCJU,  Seção  de  Protocolo,  onde  ficava  recebendo  e  protocolizando  as  petições  iniciais entregues pelos advogados. Conferia e protocolizava tais petições para, em seguida, entregá-las à Distribuição.

Por que não fui aproveitado em funções mais compatíveis com o cargo de Analista, com minha formação e experiência? Quem souber morre! O fato é que três anos se passaram, tempo esse em  que  fui  designado  para  exercer  atividades  afeitas  ao  cargo  de Técnico Judiciário. Em 1996, fui indicado para presidir a Comissão de Licitações, época em que todas as licitações  eram  presenciais,  e  a  partir  de  então  passei  a  ocupar  funções  de  maior relevo e responsabilidade. O edital do concurso que prestei para acessar ao cargo de Analista dizia  que  os  servidores  empossados  nesse  cargo  tinham  como  atribuição  exercer  atividades relacionadas a assessoramento e direção. A responsabilidade pelo fato de ter ficado três anos sem exercê-las não pode ser imputada a mim.

Distorção

Esse tipo de situação subsiste até hoje nesta Seccional assim como em outros órgãos do Poder Judiciário  Federal.  E, também,  a  situação  inversa.  Técnicos  Judiciários  exercendo  atividades atribuíveis a Analistas. É uma distorção. Uma injustiça com ambas as categorias de servidores. A rigor, desvio de função. Essa injustiça acontece, em parte, por falta de uma definição clara e objetiva  sobre  a  competência  de  ambos  os  cargos.  As  definições  são  genéricas.

Uma  das formas de se corrigir essa injustiça seria a definição de competências privativas ou exclusivas para ambos. Tenta-se corrigi-la com a nomeação de Técnicos para o exercício de Funções de Confiança,  que  adicionam  um  plus  financeiro  ao  servidor  e,  via  de  regra,  exigem  maior capacitação. Mas os Técnicos Judiciários pretendem corrigi-la de outra forma. Querem, além da  transformação  do  cargo  para  nível  superior,  a  equiparação  salarial  com  os  Analistas Judiciários. É justo?

Jeitinho

Ao  optar  por  me  submeter  ao  concurso  público  para  o  cargo  de  Analista,  assumi  um  risco. Havia  apenas  nove  vagas  para  o  cargo  naquele  momento.  Sabia  que  seria  difícil,  mas  foi  a minha  opção.  Passei  em  10º  lugar  e  aguardei  quase  dois  anos  até  ser  convocado.  Sei  de colegas  que  passaram,  por  exemplo,  em  18º  lugar  e  aguardaram  quatro  anos  até  serem chamados.  Mas  havia  muito  mais  vagas  para  o  cargo  de  Técnico.

Teríamos  entrado  de imediato.  Não  sabíamos  que  o  famigerado  jeitinho  brasileiro  poderia,  no  futuro,  burlar  as regras concursais previstas no edital e até mesmo a Constituição da República Federativa do Brasil,  a  fim  de  nos  proporcionar  um  atalho  para  o  cargo  de  nível  superior  da  carreira.

Se soubéssemos,  teríamos prestado concurso  para o  nível médio  e  hoje  estaríamos muito mais próximos da aposentadoria. Outros colegas nossos que ingressaram na carreira como Técnicos ascenderam  a  carreira  de  Analista,  por  concurso.  Para  tanto,  buscaram  formação  de  nível superior, estudaram, investiram recursos financeiros, emocionais, existenciais e despenderam enorme  esforço  ao  trabalhar  e  estudar.  Se  soubessem  dessa  possibilidade  de  ascensão funcional transversal, de certo não teriam envidado tanto esforço. É justo?