Guilherme Silva, analista do MPDFT, fez ocorrência policial após ser expulso sob acusação de “racista” e considera o episódio como represália à posição dele contra o Projeto NS.

Anajus Notícias
1º/05/2019

Momento em que Guilherme Silva é agredido por celular (abaixo da barba) / reprodução de vídeo

O 10º Congresso da Fenajufe aprovou por maioria a expulsão de Guilherme Silva, analista do MPDFT, que participavas do evento realizado desde sábado, dia 27, até hoje, 1º de maio, em Águas de Lindóia, no interior de São Paulo. Ele é autor de proposta e artigo contra o Projeto NS, conhecido na mídia como ‘trem-bala da alegria’ por elevar, sem concurso público, a escolaridade do cargo de técnico judiciário, de nível médio para superior.

Silva foi expulso aos gritos de “fora racista!” sob a acusação de estar vestindo uma camisa com símbolo supostamente usado apenas por supremacistas brancos dos EUA. A denúncia foi feita por Elaine Lídia Craus, analista da Justiça do Trabalho em Canoas (RS). Ele desqualificou a acusação, pois a imagem – uma cascavel com os dizeres, em inglês, “Dont tread on me” (Não pise em mim) – surgiu na Revolução Americana e foi proposta como símbolo das Américas por Benjamin Franklin (1706-1790), que defendeu o fim da escravatura. “Bastava consultar o Google, até pelo celular”, reclamou a vítima.

Segundo o analista, A bandeira de Gadsden, que tem a imagem da serpente, foi criada no contexto da Revolução Americana, quando as 13 colônias lutavam por sua independência frente à Coroa Britânica. “Foi adotada posteriormente por pessoas que acreditam nos valores da liberdade individual. A bandeira apresenta uma cobra recuada com a frase “dont tread on me” (não pise em mim). Ou seja: respeite o meu espaço que eu respeito o seu. Essa é a base da teoria individualista de respeito às liberdades individuais, o que se opõe frontalmente a qualquer ideologia coletivista: comunismo, nazismo, socialismo, entre outras”, afirmou.

Após a expulsão, ocorrida nessa segunda-feira, dia 29, o analista registrou ocorrência policial contra seis delegados que também participaram do evento na delegacia de Águas de Lindóia. No documento, apontou ter sido vítima de ameaça de morte, injúria, calúnia e agressão física – por ter sido  atacado com celular no nariz –, além da covardia de ser hostilizado, sozinho, por dezenas de adversários.

A vítima está disposta a processar todos os seus agressores também por danos morais. Os servidores públicos apontados como autores dos crimes irão responder às acusações no Juizado Especial Criminal da localidade, conforme decisão do delegado de Polícia Civil Ramon Moralez. Ele fez deslocamento do caso por entender que os crimes apresentam “baixo potencial ofensivo” com penas de até dois anos mais multas.

Quatro delegados do evento, que acompanharam os fatos, prestaram depoimentos na delegacia local, atestando a violência cometida contra o servidor do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) por parte dos seis delegados que envolvidos na expulsão de Silva do evento da Fenafe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União).

Violência por ataques ao NS

Após o registro policial, Silva atribuiu a violência sofrida como uma forma de represália à proposta e artigo de autoria dele contra o Projeto NS. Pouco antes de ele ir ao evento como delegado do Sindjus-DF, a Fenajufe havia censurado e retirado do site da entidade um artigo do analista contra o NS que havia sido publicado no dia 23. Por conta disso, o congresso deliberou que irá censurar também todas publicações contrárias a deliberações da entidade.

“Essa agressão tem relação com minha posição contrária ao Projeto NS”, afirmou Silva ao Anajus Notícias. “Desde que eu cheguei no congresso, fui hostilizado.  Todo mundo já me conhecia e me assediava para que eu desistisse de apresentar a proposta pelo fim do projeto. Mesmo quando fazia alguma fala que não tinha absolutamente nada a ver com  eni-éssi, eu era vaiado pelo plenário”, lembrou.

De acordo com o relato do analista, a agressão começou por volta das 16h de domingo, dia 28, quando apresentou tese sobre conjuntura no plenário. Ele conta que foi chamado de “fascista” pelo técnico judiciário José Dalmo Vieira Duarte, do TRF-3 (SP e MS) e suplente da diretoria do Sintrajud-SP.

Em seguida, contou que foi hostilizado pelas palavras de ‘racista!’ e ‘fascista!’ por boa parte do plenário, formado em sua maioria por técnicos judiciários. Coincidentemente, lembrou Silva, logo após a expulsão. o técnico judiciário Heraldo Madeira expulsou a vítima do grupo misto formado por técnicos e analistas que analisava o Projeto NS.

“Porrada” e eliminação

Na manhã de segunda-feira, de acordo com o relato da vítima na ocorrência policial, depois que Elaine Lídia Craus fez a denúncia, ele sofreu um assédio generalizado. “Várias pessoas no plenário me cercaram e gritaram ‘racista!’, disseram para me encherem de ‘porrada’ para que eu sofresse o que os negros sofreram. Neste momento, o José Dalmo bateu com telefone celular no meu nariz aos gritos de ‘racista!’”, relatou.

A ameaça mais grave ocorreu, depois que ele foi expulso do plenário, por parte do servidor público Wilson Veleci da Silva, do MPF-PGR. “Quando estava saindo, o Wilson gritou: ‘Me aguarda em [sic] ‘bicho’, não vai ficar assim não, racista não tem conversa não, a gente elimina”.

Logo depois de sair do plenário, Silva afirmou disse ter ouvido mais ofensas, desta vez, por parte do técnico judiciário Ruy Bittencourt de Almeida Neto, do TRF4 e diretor do Sintrajufe-RS. “Já do lado de fora do plenário, o Ruy me disse que eu era ‘racista’ e ‘criminoso’, que era para assumir o que eu faço”, prosseguiu.

Além dos quatro citados, foram também acusados como autores das agressões verbais os seguintes servidores públicos: Ângela Maria Pereira da Costa, técnica judiciária do TJDFT em Ceilândia e delegada do Sindijus-DF, que é acusada de chamar Silva também de “racista”; e Marcelo Amorim de Menezes, técnico judiciário do TRT-15 e diretor do Sindiquinze, que é acusado de ofensas à mãe do analista.

Outro lado

Desde ontem, o Anajus Notícias tem procurado contatar com os acusados para colher a versão deles sobre o episódio. Foram enviados pedidos de esclarecimentos via WhatsApp e SMS a Ruy, Marcelo e Wilson. Esse último enviou mensagem, mas sem responder às acusações de que disse ao analista que “racista, a gente elimina”. Em nova resposta, ele escreveu que “O ônus da prova cabe a ele, coisa que temos para provar o racismo do mesmo”.

Segundo Wilson, o analista ele fez ocorrência sem a camisa. Escreveu que “ele foi expulso porque usou uma camisa que a ku klux klan usa quando sai p/ matar negro, judeu, LGBT, latinos. Após cometer assassinato, deixa a camisa sobre o corpo da vitima”. Recomendou falar com o advogado da Fenajufe, pois foi feito um boletim de ocorrência de racismo contra ele na Delegacia de Águas de Lindóia . “E será denunciado por racismo ao GT-Racismo do CNMP e ao MPDFT pela Fenajufe”, anunciou.

Questionado a respeito, Silva respondeu: “O ônus da prova é de quem acusa. Quem me acusou de racismo foram eles. Não existe racismo sem dolo, sem a intenção de ser racista”.