Resistência se baseia na avaliação de que o impacto político da proposta é inevitável, segundo notícia divulgada pelo jornal “O Globo”

Anajus Notícias
13/02/2020

A insegurança do presidente Jair Bolsonaro sobre ser o fiador de uma reestruturação no funcionalismo público travou, ao menos por enquanto, o avanço da reforma administrativa, informa notícia publicada hoje pelo jornal “O Globo”.  Entidades de servidores públicos, como a Anajus, prometem manter mobilização contra essa e outras propostas reformistas que atacam os direitos da categoria.

Em conversas recentes, aponta a notícia, o presidente indicou a aliados não estar confortável com o texto proposto pelo Ministério da Economia e sinalizou que pode deixar a proposta em banho-maria por tempo indeterminado. Essa e outras notícias na dão conta de que mesmo com as mudanças feitas pelos auxiliares jurídicos, Bolsonaro tem dito que não se sente à vontade para tocar a reforma. A resistência se baseia na avaliação de que, apesar de o texto estar mais alinhado às demandas do funcionalismo, o impacto político da proposta é inevitável.

De acordo com integrantes do alto escalão do governo, o texto elaborado pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, não agradou ao presidente. Outros veículos de comunicação apontam que, em uma reunião com a equipe econômica, Bolsonaro bateu na mesa e perguntou se alguém ali estava trabalhando para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pretenso candidato à Presidência da República em 2022.

Depois de se debruçar sobre o texto por quase um mês, o time jurídico do Planalto apresentou uma nova versão da reforma a Bolsonaro, destrinchando cada um dos itens modificados. A avaliação levada ao presidente foi a de que a proposta da Economia abriria brecha para, entre outros pontos, entregar a empresas privadas a gestão de áreas estritamente públicas.

Redesenho ao adversario

A auxiliares, Bolsonaro demonstrou incômodo com o fato de sua equipe econômica usar a reforma gestada por seu governo para, em sua concepção, propor um redesenho do Estado que atenderia a aspirações de seu adversário político, no caso, João Doria.

A hesitação de Bolsonaro e o consequente vaivém do governo em torno do envio de uma proposta própria de reforma administrativa ao Congresso tem como pano de fundo uma queda de braço entre a equipe econômica e ministros da “cozinha” do Palácio do Planalto.

A avaliação do entorno mais próximo ao presidente é que a proposta defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, pode acabar com carreiras de Estado.

Segundo aliados, tão logo recebeu o texto de Guedes, Bolsonaro pediu que os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira; da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário; e da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, avaliassem a proposta.

Nesse contexto, a atuação de Jorge Oliveira foi fundamental para segurar arroubos na proposta. Pessoas próximas ao ministro dizem que ele não é contra o projeto, mas está preocupado em preservar carreiras tidas como fundamentais para o Estado, como as jurídicas e as diplomáticas.