Ministro da Economia desiste de comparecer à CCJ para explicar PEC da Previdência e azeda mais o clima entre governo e Congresso. Colegiado remarca a audiência para quarta-feira e anuncia que a admissibilidade da reforma será votada em 17 de abril
CORREIO BRAZILIENSE
27/03/2019
O clima entre o governo e o Congresso, que já estava ruim, piorou com a ausência de última hora do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ontem. Convidado para explicar a reforma da Previdência aos deputados, o chefe da equipe econômica deu uma justificativa que não convenceu nem o presidente do colegiado, por meio de nota, a poucas horas de começar a audiência pública da qual ia participar, às 14h. A reação negativa obrigou o governo a conversar com líderes partidários, no fim do dia, para tentar acalmar os ânimos, e um novo dia foi marcado para ouvir Guedes: na próxima quarta-feira.
À CCJ, o ministério argumentou que a ida do titular da pasta seria “mais produtiva” a partir da definição do relator, o que é responsabilidade do presidente do colegiado, Felipe Francischini (PSL-PR). O deputado foi pego de surpresa com a ausência do ministro, assim como os outros parlamentares, e não gostou da justificativa. Ele lembrou que, na última sexta-feira, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) havia concordado com ele que o relator teria que ser escolhido “após uma série de fatores políticos”, ao longo da semana, que gerariam “um ambiente mais favorável”.
O discurso da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), foi diferente. Ela minimizou a ausência de Guedes, disse que não tinha motivo para o ministro participar de um “bate-boca” sem relator e cobrou mais rapidez de Francischini. “Temos de indicar logo. Falo isso desde a semana passada. Eu entendo que há pressão dos dois lados, de alguns partidos também. É natural, nada que seja assustador. Mas, neste momento, tem de dar um passo à frente”, afirmou.
Os deputados estavam ansiosos para receber o ministro, com muitos questionamentos preparados sobre a proposta de emenda à Constituição (6/2019), que trata da reforma para os civis, e sobre o projeto de lei que muda as regras dos militares, apresentado na última quarta-feira. Em geral, eles consideraram incoerente a justificativa de Guedes para a ausência.
Além dos problemas de articulação entre governo e Congresso, os aliados do presidente têm tido dificuldades em se entender dentro da Câmara. Ontem, o líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO), declarou apoio da bancada à reforma da Previdência proposta pelo governo, mesmo com divergências no partido. O anúncio aconteceu pouco depois de o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), ter dito que a legenda não tinha chegado a um consenso sobre o assunto. Na semana passada, Waldir comentou que é difícil encontrar um deputado que queira “colocar a digital” na proposta, que tem sido muito criticada.
Porta aberta
Depois de ser atacado na CCJ e no plenário pela atitude de Guedes, o governo começou a se mexer para tentar contornar a repercussão negativa. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, enfim assumiu o papel de articulador político e foi à Câmara ouvir as queixas dos líderes partidários. No Ministério da Economia, Guedes recebeu Francischini, Vitor Hugo e a vice-presidente da CCJ, Bia Kicis (PSL-DF). Após a reunião, o presidente da CCJ anunciou que o parecer, que ainda não foi apresentado e não tem relator, será votado em 17 de abril.
O motivo do encontro, segundo Lorenzoni, foi “ouvir, ouvir e ouvir” as queixas dos congressistas. Questionado sobre a crise entre os Poderes, ele ressaltou que a vontade do Planalto é manter um “canal de diálogo absolutamente aberto e permanente” com o parlamento. “O governo vem dialogando, mas sabemos que vivemos um momento novo e que nós precisamos, com humildade e paciência, construir um caminho do entendimento”, disse.
Algumas lideranças de centro que participaram do encontro, contudo, criticaram a postura do governo. Elas se queixam da demora do Planalto em procurá-las e, ainda, que insistem em ressaltar “a nova política”. “Mas ninguém vem aqui mostrar como é que se faz”, reclamou um parlamentar. Entre as principais queixas dos congressistas está o uso das redes sociais por parte do presidente Bolsonaro e de seu entorno: “Acabar com esses tuítes, esses ataques. Um dia fala tranquilo, em outro está atacando”.
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