Um dos principais sintomas do autoritarismo é a preocupação com a linguagem, com a expressão de pensamentos que não reproduzam a ideologia dominante. E, consequentemente, a perseguição a quem pensa diferente.

CARTA CAPITAL
15/06/2018

É que a força da linguagem pode promover uma revolução. Para o bem e para o mal. Chamar empregado de colaborador ou usar o termo “desligar” ou “dispensar” para a cessação da relação de emprego, tem a força de obscurecer o caráter de oposição de interesses e de exploração que identifica essa relação jurídica. Dizer que entre sindicatos ou entre sindicato e empresa ocorre negociação coletiva é outro modo poderoso de naturalizar a renúncia a direitos fundamentais em uma prática construída e justificável historicamente apenas sob a perspectiva da tensão do trabalho sobre o capital e, portanto, da conquista de mais direitos. Referir-se à “rescisão unilateral” ou à “denúncia imotivada do contrato”, são formas potentes de disfarçar a violência simbólica e real ocasionada pela perda do posto de trabalho em uma sociedade na qual trabalhar não é escolha, mas modo de sobrevivência física.

As palavras têm força.

A força da violência simbólica das palavras não assusta quem detém o poder. Ao contrário, é poderoso instrumento de dominação, através do disfarce, do eufemismo, mas também de prescrições contidas em texto de lei, regulamentos, provimentos.

O viver democrático permite, porém, que a dominação seja denunciada também com palavras que identificam quem rasga a Constituição, elogia a tortura, nega a participação pelo voto, suprime direitos fundamentais como o de presunção de inocência ou o direito de greve.

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