”Os servidores públicos vêm sendo há tempos apontados como bodes expiatórios. Somos apresentados como os vilões, não há dúvida. A pandemia mostrou que também temos muitos servidores que se comportam como verdadeiros heróis”.

Correio Braziliense
William Douglas
28/07/2020

É incorreto virar as costas para críticas, como se os críticos fossem vilões. Do mesmo modo, não é produtivo nem democrático impedir a fala ou tentar desqualificar a priori o interlocutor que aponta falhas. Buscar o aperfeiçoamento exige saber escutar e conviver com o escrutínio dos outros. O caminho saudável da razão, portanto, é ouvir o que está sendo dito e, assim, pesar os fatos. O que pode ser feia é a paisagem, não a janela que a revela. Apenas o diálogo e o respeito à liberdade de pensamento podem mostrar a verdade e o melhor caminho a trilhar.

Os servidores públicos vêm sendo há tempos apontados como bodes expiatórios. Somos apresentados como os vilões, não há dúvida. A pandemia mostrou que também temos muitos servidores que se comportam como verdadeiros heróis. De um modo ou de outro, seria corporativismo eventual silêncio a respeito da insatisfação da população com a média dos serviços prestados pelo Estado nos Três Poderes. Apenas o diálogo leal pode permitir descobrir causas e soluções, culpados e caminhos. Um país que reduz o debate público a ofensas e a adjetivos não vai progredir.

>Estou certo de que as injustas tentativas de vilanizar os servidores seriam menos bem-sucedidas se os serviços prestados por nós fossem melhores. A solução para aperfeiçoar o serviço público não é desmontá-lo nem contratar terceirizados, temporários ou um mar de comissionados. Seria hipocrisia, no entanto, fingir que as coisas estão satisfatórias ou suscitar institutos que não estão funcionando a contento. Ou nós melhoramos a prestação dos serviços públicos, ou seremos sempre vítimas dos que querem o fim do concurso, da estabilidade e da profissionalização da carreira pública.

As pesquisas mostram que o povo não está satisfeito com a média dos servidores e que não confia muito nos Três Poderes e na mídia. Curiosamente, duas das instituições mais atacadas, Igreja e Forças Armadas, saem-se melhor diante do crivo popular. Então, que todos tenham a coragem de, humildemente, ouvir as ruas e as críticas para filtrar o que é procedente. E, então, corrigir o que é preciso.
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